Quase todos temos uma aldeia na nossa história. Aquele lugar onde queremos regressar sempre, que nos liga às origens, à memória de infâncias felizes, com pés descalços, joelhos esmurrados e sorriso rasgado.
A aldeia era para nós o lugar das férias de Verão, das amizades reencontradas ano após ano, dos namoricos de Agosto, dos avós pacientes e ternurentos.
Uma das nossas aldeias chama-se Cativelos e fica no sopé da Serra da Estrela. É a terra da avó da Soraia e lugar de férias em família desde que se conhece por gente.
Cativelos é uma aldeia de emigrantes e como todas as aldeias de emigrantes vive entre dois ciclos: a apatia dos invernos severos e cinzentos e a vitalidade do “querido mês de agosto”.
Nesse mês a aldeia muda de ânimo. Os 3 cafés ficam cheios; os carros de alta cilindrada e aparelhos sonoros dignos de uma discoteca circulam para baixo e para cima.
As janelas das grandes vivendas, construídas com uma vida inteira de trabalho no estrangeiro, abrem-se para deixar finalmente entrar a luz e o ar puro, e ouvem-se “novas línguas” misturas de português, francês, alemão.
– “Viens ici!”; “Jean Pierre, tu vas tomber”!
Para nós Cativelos é uma espécie de ponto de equilíbrio, um ritual que fazemos questão de manter ano após ano e talvez agora, desde que somos emigrantes e temos um filho, faça ainda mais sentido.
A aldeia possui uma mística própria, uma energia que não muda, só se renova.
Ali caminhamos pelas ruelas de casas em granito, corremos pelos trilhos, exploramos caminhos de bicicleta, sentimos o cheiro a pinheiro manso e o sabor das amoras que as silvas nos oferecem.
Detalhes que nos permitem mostrar ao Kiko a simplicidade e importância das pequenas coisas e manter nele uma referência à terra, à infância dos pais, no tempo em que não haviam playstations, nem telemóveis.
Porque o fazemos? Para que não seja um mundo estranho para ele. Porque é importante que ele saiba e sinta que também é feliz nesta realidade. Para que as “aldeias da vida” nunca lhe causem estranheza. Sobretudo, para que também se apaixone por ela e queira sempre aqui regressar.
A Dorna é o recanto mais consensual da aldeia. Todos a adoramos! Uma cascata por onde correm as águas frias (geladas!) do Mondego e formam uma pequena zona de banhos revigorante.
Emigrantes e residentes conhecem a Dorna e frequentam-na, mas assumem um pacto silencioso e discreto que a tornam num segredo bem guardado de Cativelos. Por isso o sítio é calmo, escondido e tem sido imune à moda das praias fluviais.
Perdemos a conta às horas que ali passamos todos os anos.
Mas como somos uma família com “bicho carpinteiro” onde a palavra “parar” não significa necessariamente fazê-lo de forma física, aproveitamos Cativelos como base para explorar a região da Serra da Estrela.
Na verdade, é das zonas de Portugal que mais adoramos, muito pela relação afetiva, mas também pela diversidade de programas que aqui podemos fazer.
Desengane-se quem pensa que a Serra da Estrela só é encantadora no inverno!
Cativelos faz parte do concelho de Gouveia, uma das principais portas de entrada na serra. Cidade pitoresca e serrana.
Dali, chega-se facilmente à barragem do Vale do Rossim, onde existe um Ecoresort, um bar ideal para fins de tarde e muitas atividades como paddle, canoagem, escalada, slide.
Mais acima, atinge-se o cume da serra, a Torre e a partir dali é possível chegar ao lindíssimo Covão da Ametade; descer na direção da Covilhã, ou de Manteigas.
E há ainda o Sabugueiro (a mais alta aldeia de Portugal); Seia (capital do maravilhoso queijo da serra) ou Loriga com uma das mais bonitas praias fluviais do país.
Cativelos também fica muito próximo de várias aldeias históricas como Folgosinho, Belmonte, Piodão ou Linhares da Beira. Nesta última, se fôr aventureiro recomendamos um baptismo de parapente onde poderá ver dos céus todo o distrito da Guarda!
Havemos de escrever mais artigos sobre esta região.
Acreditem em nós! Vale a pena passar por aqui!
Onde ficar: Cativelos oferece algumas opções em Airbnb, mas pode também ficar nas proximidades. Gouveia, Seia ou Mangualde são as cidades mais próximas e com boas ofertas hoteleiras.
Gastronomia: Os sabores serranos são um exlibris desta região. Para “bons garfos” recomendamos o Albertino em Folgosinho, uma autoridade em pratos regionais. Em Gouveia O Júlio e O Flor são dois “must”. Recomendamos também o restaurante Ponte dos Cavaleiros em Arcozelo da Serra, situado num antigo lagar de azeite, onde além da refeição pode visitar a queijaria e experimentar queijo de produção própria.
O que fazer: Cativelos tem um grande parque com atividades radicais, piscina, restaurante, espaço para piqueniques, campismo e mini golf, chama-se Sra. Dos Verdes. A 7 km, Gouveia é a cidade mais próxima onde pode visitar o centro histórico, museus e um parque ecológico. De Gouveia para cima tudo é Serra da Estrela, paisagem, trilhos pedestres incríveis, lagoas deslumbrantes.