O Douro vinhateiro e as suas margens são das mais incríveis paisagens de Portugal. Marcadas pelos socalcos plantados de vinha a perder de vista, que desafiam as leis da gravidade e se refletem no imponente rio Douro.

Por isso, visitar esta região é obrigatório e pode fazê-lo, pelo menos de três formas diferentes. De comboio, de carro, ou de barco. É mais ou menos à escolha do freguês. Mas como nós não conseguimos decidir, recomendamos todas!

Apita o comboio

O comboio histórico que liga a Régua ao Tua é um convite a uma viagem ao passado. Na estação da Régua a locomotiva a vapor comprova-o bem e dá-nos as boas vindas.

Por isso, entre numa das carruagens de madeira, sente-se e recue até ao princípio do século XX.

A viagem começa à hora marcada e há-de durar cerca de 3 horas, num percurso de ida e volta.

A bordo há animação, com um grupo de cantares regionais, acompanhados de um vinho do Porto, bebida obrigatória na região.

Mas o melhor mesmo é apreciar a paisagem. As quintas altaneiras nas colinas e a vinha, que dá origem a um dos mais famosos vinhos do mundo, a descair pela encosta.

Entretanto, chega-se ao Pinhão. A bonita estação com painéis de azulejos onde o tempo parece ter parado. É encantador!

A locomotiva apita, o vapor sobe no ar e eis-nos rumo à próxima estação.

O percurso faz-se sempre lado a lado com o Rio Douro, onde vão passando os cruzeiros e os barcos rabelos. Vinha e mais vinha, às vezes com um ou outro solar transformado em guest house de onde os hóspedes nos vão acenando com simpatia.

Eis que o Tua surge no horizonte. É a estação terminal e, portanto, há tempo para sair do comboio e visitar a mostra dos produtos regionais, antes de regressar a bordo.

Entretanto, a locomotiva já está de novo a postos. O vapor anuncia a partida. O percurso faz-se agora no sentido inverso até chegar a Peso da Régua.

E assim regressamos de novo ao século XXI, desta vez a caminho do Museu do Douro. Um antigo palacete, antiga Casa da Companhia Velha, hoje destinado a promover o Douro vinhateiro e a sua região demarcada.

O espaço tem uma exposição permanente que enaltece a cultura, tradição e etnografia ligadas à produção de vinho e a sua importância para esta região.

A mais bonita estrada do mundo

Se na margem esquerda, de quem sobe o Douro, fica o comboio, na margem direita fica a EN 222. Isto é, aquela que foi considerada a melhor estrada do mundo para conduzir e também uma das mais bonitas.

Mas melhor do que os títulos é ver com os próprios olhos. Por isso, escolhemos o troço Peso da Régua-Pinhão. São cerca de 60 km junto ao rio, com vistas deslumbrantes sobre a paisagem do douro vinhateiro, classificada como Património Mundial da Unesco.

O trajeto é marcado por largas retas, mas a ideia mesmo é tirar o pé do acelerador e ir parando nos miradouros para contemplar tudo o que os seus olhos conseguem ver.

Uma vez nesta estrada, recomendamos uma visita a pelo menos uma das muitas quintas de produção de vinho do Porto.

Há várias, todas abertas ao público com pacotes de visita e / ou degustação.

Nós escolhemos a Quinta do Seixo, quase a chegar ao Pinhão. A quinta, que data do século XVII, foi totalmente remodelada e responde às exigências de bom gosto e estilo da região.

A adega adotou um design contemporâneo, assim como o wine bar, uma agradável surpresa que se esconde no meio das vinhas centenárias e onde é possível degustar os vários portos aqui produzidos.

Sente-se, pegue no cálice, respire fundo e brinde à vista magnifica que tem à sua frente.

Do Pinhão ao Tua de barco

O vinho do Porto abriu-nos o apetite para o almoço no Pinhão. Chegamos na “hora crítica” e sem nada reservado, portanto, almoçar à beira rio foi impossível.

Mas, diz-se que há males que vêm por bem e acabamos por encontrar um restaurante, menos turístico, mas que viria a revelar-se uma agradável surpresa.

O Ponto Grande, fica junto à estação de comboios e por 17,50 € é-nos servido o menu de degustação com uma entrada (alheira) e três pratos típicos da região (costeletas em vinha d’alhos, caldeirada de cabrito e feijoca). Em suma, comida bem confecionada, caseira e com serviço rápido e eficiente.

O que precisávamos para retemperar energias e chegar a horas ao cais para o passeio de barco rabelo.

E não há nada como fazer a digestão de um almoço farto, a navegar nas águas calmas e frescas do Douro, embalados pela paisagem de que não nos cansamos.

Vinha e mais vinha a desafiar as leis da gravidade. Ali, sobre declives improváveis, a resiliência aliada à engenharia venceram e deram origem à mais impressionante e bem sucedida região vinícola de Portugal.

O passeio de barco demora duas horas entre o Pinhão, o vale do Tua e o regresso.

Voltamos a terra deslumbrados e prontos para seguir caminho.

Desta vez na direção de Tabuaço, que é uma vila situada na sub-região do Douro, já no concelho de Viseu, mas que fica a menos de 20 km do Pinhão.

É ali que se situa um restaurante que há muito andávamos “a namorar” que seria a cereja no topo do bolo de um dia cheio!

Assim, com alguns desvios pelo caminho para contemplar as aldeias inseridas nos socalcos do Douro, chegamos ao Tabua d’Aço mesmo à hora de jantar.

O restaurante tem a assinatura e a paixão do chef austríaco Thomas Egger, que se apaixonou por Portugal e se fixou no Douro em 2003, para aqui criar uma das melhores experiências gastronómicas da região.

Além disso, ao restaurante, Thomas Egger juntou ainda uma marca de azeite biológico e de vinho que podem ser comprados e consumidos no Tábua d’Aço.

A ementa é um pecado que começa logo nas entradas.

Para prato principal escolhemos o famoso bacalhau na telha, que é simplesmente divinal.

E foi assim que, de coração e barriga 😊 cheios terminados esta escapadinha ao Douro. Uma de muitas, porque aqui, há que voltar sempre!

Dicas úteis:

O comboio histórico do Douro este ano só faz viagens aos sábados nos meses de Agosto e Setembro. O preço é de 52,50 € adultos e 20,00 € crianças. Compre online aqui.

Os cruzeiros Pinhão-Tua-Pinhão são diários, com partidas do cais do Pinhão às 10.45 ou às 15.00. O preço é de 20,00 € adultos e 10 € crianças. Compre online aqui.

Onde comer:

Gato Preto (Peso da Régua), Ponto Grande (Pinhão), Tabua d’Aço (Tabuaço)

Onde dormir:

Neste roteiro decidimos ficar em Tabuaço na Casa do Brasão. Uma casa senhorial do século XVII, hoje transformada em hotel unidade hoteleira.