Toca o telefone. Notificação de mensagem recebida. “Que tal Bordéus para a passagem de ano?”. Estávamos em Novembro, a agenda cheia de trabalho e por isso mesmo, a contar os dias para o habitual regresso no Natal e fim de ano. Embora Bordéus não fosse para nós um destino de primeira linha, muito menos no Inverno, a ideia de estar com os nossos amigos viajantes e fazer algo diferente foi acolhida com entusiasmo.
E foi assim que fizemos uma escapadinha a Bordéus nos últimos dias de 2019.
Chegámos ao fim do dia, com temperaturas negativas, bem mais frias que em Portugal. Sim, o Inverno de Bordéus é mais rigoroso, o que, para quem tem “termostato crioulo” é um sacrifício grande 😊
Por outro lado, era a temperatura ideal para abrir as “hostilidades” com uma bela garrafa de vinho de Bordeaux, ou não fosse esta uma das mais famosas regiões vinícolas do mundo.
Dia 1
O nosso 1º dia em Bordéus era destinado a explorar a cidade. Por isso, deixámos o carro bem estacionado na Place de Quinconces, uma das maiores e mais bonitas praças da Europa e dali seguimos a pé, pela zona histórica.
Sem pressas, a ideia era sentir a cidade. Um café aqui, um canelé ali (doce típico) e assim, rapidamente se chega à imponente catedral de Santo André, uma catedral de estilo gótico do século XI.
Descendo pelas estreitas ruas da zona histórica, alcança-se a mítica Place de La Bourse com os seus magníficos edifícios que se abrem ao rio Garonne.
Foi aqui que a partir de 2016 foi projetado o maior espelho de água do mundo, que permite refletir as fachadas e criar um efeito fotográfico e visual extraordinário.
Infelizmente, no Inverno em Bordéus o espelho de água não funciona, mas a vista da praça para quem está junto ao rio é igualmente incrível e digna de registo.
Almoçamos por ali mesmo, no animado bairro Saint Pierre, onde há imensa escolha de restauração, embora não seja propriamente barato.
Depois de almoço corremos para o carro, onde fomos presenteados com uma multa por termos excedido o tempo do parquímetro.
A polícia ainda estava lá, mas tinha acabado de registar a infração e não houve nada a fazer. Passava meia hora sobre o tempo a que tínhamos direito e a tolerância nos parquímetros é de 25 minutos. Fica a dica!
Se a manhã foi destinada a visitar a zona histórica, à tarde rumámos à futurista La Cité du Vin. Um edifício projetado por uma dupla de arquitetos franceses e onde se pode fazer um tour pelo mundo da enologia.
O bilhete custa 20 € e dá acesso à exposição permanente que se estende por várias salas temáticas e módulos interactivos e termina com a degustação de vinho no Bèlvédere, um miradouro panorâmico com vista 360 sobre Bordéus.
Para quem não quer comprar o bilhete para a exposição permanente, há áreas de livre acesso dentro do museu, nomeadamente a biblioteca, a loja (cellar) com mais de 800 rótulos de todo o mundo (encontramos lá vinho de Cabo Verde, e claro, muitos de Portugal!) e um restaurante / tapas bar.
Dali seguimos caminho para o Darwin Eco-système.
Um antigo armazém militar, hoje transformado em espaço alternativo de cowork, onde os conceitos da sustentabilidade, comércio justo, arte urbana e criatividade estão bem presentes. Vale a pena uma visita para experimentar o café moído na hora e o bolo de chocolate do Magasin Géneral o enorme restaurante e loja bio do espaço.
À saída do Darwin Ecosysteme o sol de Inverno teimava em manter-se connosco por isso traçamos um rumo para o sunset: O Château Smith Haut Lafitte, uma conceituada quinta produtora de vinhos da mesma assinatura e onde fica o não menos conceituado hotel & spa Les Sources de Caudalie.
Foi aqui que nos “repousámos”, a ver as vistas de fim de dia nas imensas vinhas, agora douradas pelo sol de Inverno, no secular castelo da família e junto à casa do lago, onde se conta que Johhny Depp terá passado férias recentemente.
Quando o sol nos deixou e porque as temperaturas nos começaram a “congelar” recolhemo-nos ao Rouge, o “bar au vin” do hotel na companhia de um vinho e uma tábua de queijos. Perfeito!
Dia 2
Com o essencial de Bordéus visto, hoje, dia 31 de Dezembro, foi dia de andar pelos arredores. Primeiro à descoberta das vinhas e castelos da região, depois na direção da Dune do Pilat, a maior duna da Europa.
O espaço é uma atração turística, por isso, está preparado com parque de estacionamento, café e pequenas lojas de recuerdos.
Mas o melhor mesmo é pôr-se a caminho para subir os 109 metros da famosa duna. Muito fácil por sinal. Descer a surfar a areia é ainda mais divertido!
Dali seguimos viagem para a baía de Arcachon, uma simpática localidade voltada para o mar, famosa pelas suas ostras.
O mercado é um must go. Um espaço vivo no coração da vila, que se estende também à praça exterior com uma enorme variedade de produtos frescos, queijos, enchidos.
O mercado tem dois espaços de restauração, num deles pode degustar as ostras da baía. Deliciosas!
De barriga cheia caminhámos junto ao mar, entre o extenso areal e os edifícios “belle époque” que caracterizam a arquitetura de Arcachon. Por ali havia ainda um bonito mercado de Natal com pista de gelo e tudo!
Noite de 31 de Dezembro
Talvez por ter um Inverno rigoroso, Bordéus não tem animação de rua na passagem de ano. Não há palcos com música na cidade, nem fogo de artifício. A região, põe a tónica do réveillon à mesa, com inúmeras ofertas de jantares requintados a preços de inflação.
Nós, 4 adultos e uma criança, não queríamos passar a última noite de 2019 sentados num restaurante, por isso escolhemos uma opção mais descontraída.
Descobrimos online o La Boca Food Court, uma praça alimentar, onde a festa era de entrada livre, sem reservas e com música dos anos 80 e 90.
E foi assim que entrámos em 2020, num espaço sofisticado, com várias ofertas gastronómicas, bons vinhos e música “do nosso tempo”.
Dia 3
Hoje era dia de viagem, mas ainda conseguimos fazer uma escapadinha a Saint-Émilion, um destino que tínhamos na lista.
Saint-Émilion é conhecida como uma das mais charmosas regiões vinícolas de Bordéus.
Uma vila medieval, património mundial, construída numa colina, o que lhe dá um ar imponente e de destaque sobre as imensas vinhas e castelos que a circundam.
As ruas dispostas em planos inclinados desembocam quase sempre numa bonita praceta florida, com simpáticas esplanadas. Pelo caminho lojas e mais lojas de degustação e venda dos vinhos desta região demarcada, artesanato local e uma boa oferta de restaurantes.
Tudo parece ter sido ali colocado para ser fotogénico, pitoresco, cheio de charme e identidade.
E assim regressámos à temperada Lisboa, deixando as temperaturas mais frias do Inverno em Bordéus para trás. O coração, porém, ía quente por estes dias entre amigos e a bagagem cheia de memórias. Uma região que nos surpreendeu muito e onde haveremos de voltar para mais um copo de vinho, com vista para os castelos encantados da região.
Dicas uteis:
Viajámos de Lisboa para Bordéus na Ryan Air que tem preços muito convidativos para este destino, se comprar com antecedência.
Alugámos carro e por isso, escolhemos ficar hospedados na zona de Bordeaux Lac, mais afastada do centro mas com muitas opções de hotéis a melhor preço.
O que visitar: centro histórico de Bordéus, Património da Unesco. La Cité du Vin. Regiões vinícolas de Martillac e Saint-Émilion. Vila de Arcachon. Duna de Pilat.
O que fazer: Degustar a gastronomia local. Visitar as vinhas, os chateaux e percorrer as rotas do vinho. Marcar uma visita às caves. Repousar no spa do Les Sources de Caudalie.
Onde comer: Um dos pontos fortes da região é sem dúvida a requintada gastronomia. A escolha é imensa. Recomendamos o bairro de Saint Pierre e o seu emaranhado de ruas cheias de bons restaurantes.