Começa com um convite profissional aliciante e o desejo de aventura noutro lugar, noutras paragens, num momento em que o nosso país parece pequeno demais para as ambições que traçámos.
Dizemos sim ao novo desafio, mudamos armas e bagagens e recomeçamos a vida longe de Portugal com toda a pujança, energia e entusiasmo que as mudanças merecem.
No nosso caso seria um projeto com regresso marcado, mas que acabamos, por vontade própria, a prolongar.
Já lá vão quase 14 anos. 14 anos de uma vida boa, de muito crescimento pessoal e profissional, de mais alegrias do que tristezas.
Mas são 14 anos, caramba!
14 anos a viver entre a alegria da chegada e a tristeza da despedida. A fazer de Agosto o “balão de oxigénio”, o mês onde queremos viver o ano inteiro, sentir os abraços de um mundo que nos reencontra; fazer tudo o que não temos do lado de lá. Pensando que assim se compensa o tempo perdido, ausente.
E este regresso demorado, (férias de 30 dias não é para todos!) é sempre tão feliz quanto duro.
Os nosso vão crescendo; envelhecendo… vamos todos, na verdade! A vida vai andando e nós sentimos que já não fazemos parte dela; somos só visitas, recebidas com amor e carinho, mas que todos sabem que hão-de partir em breve.
Depois vem a frustração da contagem regressiva. O mês de férias a chegar ao fim e nós com tanto para fazer, tantas pessoas que ficaram por abraçar, tanto que fica sempre por dizer.
Em cada despedida uma lágrima; um até breve, não tão breve assim. Vai crescendo o nó na garganta; a dor no peito, o peso das malas que são cada vez mais difíceis de arrumar.
Um mês é tempo suficiente para recebermos a energia umbilical que nos puxa e teima em dizer que é daqui que somos… desta nossa terra de onde escolhemos partir, mas que será sempre a casa, o lar, o amor, o eterno amor. É disso que se fala, quando se fala de raiz.
Do lado de lá a vida espera-nos, cheia de desafios: amigos saudosos; os gatos; os periquitos; a casa toda para desarrumar outra vez; a escola do miúdo; o trabalho acumulado. E sim, é esta a nossa vida. A que escolhemos!
Mas custa muito partir.
E é isto que é ser emigrante! É viver com o coração dividido e um relógio em contagem regressiva no peito. É ver os nossos envelhecer, chorar as perdas à distância ou entrar no avião já de luto. É ter medo de quando o telefone toca fora de horas e o número começa por +351. Querer viver um ano inteiro num só mês e sentir a frustração deste desejo nunca concretizado.
Ser emigrante é ter as emoções à flor da pele; um patriotismo quase “pimba”; uma paixão inexplicável pela nossa terra e querer fingir que nunca daqui saímos.
É estar longe.. e estar longe é muito duro!