O vulcão do Fogo é o ponto mais alto de Cabo Verde e único vulcão ativo do país. Só por estes dois argumentos já vale a pena a aventura de subir a este incrível cone. A subida ao vulcão é extensa, mas não é extremamente difícil. De qualquer forma, exige alguns preparativos e detalhes a ter em conta.

O vulcão situa-se em Chã das Caldeiras, uma das mais incríveis paisagens de Cabo Verde, marcada pelo negro da jorra e lava petrificada das sucessivas erupções. A última foi em finais de 2014 e durante 88 longos dias e noites, a lava incandescente engoliu a maior parte das comunidades que compõem Chã das Caldeiras. Mas, como as gentes daqui têm resiliência no sobrenome, tudo foi reconstruído. Mal o chão arrefeceu, a vida retomou a habitual normalidade. Só ameaçada agora pela pandemia que estagnou o turismo e pôs em pausa as constantes subidas e descidas ao vulcão. Rendimento de dezenas de guias turísticos do Fogo.

Foi precisamente nesta “época baixa” que decidimos, ao fim de muitos anos a viver em Cabo Verde, subir finalmente ao ponto mais alto do país.

Primeiro recomendação: Se puderem façam-no em grupo. Como diz o ditado “se queres ir rápido vai sozinho, mas se queres ir longe vai em grupo”. Esta foi a nossa máxima. Éramos 14 pessoas, 8 adultos, 6 crianças (a mais nova tinha 9 anos) e 1 cachorro (o Snoopy). Isso facilitou muito a subida. Fomo-nos motivando uns aos outros, num clima de interajuda, alegria e respeito pelo ritmo de cada um.

Segunda recomendação: Ir sempre acompanhado de um guia. Como já dissemos, a subida ao vulcão não é muito difícil, mas é determinante ir sempre pelo caminho certo. Só um guia saberá exatamente que trilhos devemos seguir. Há vários guias em Chã das Caldeiras. Nós fomos com o Zezé Montrond muito experiente, atencioso e responsável.

Partimos de Chã das Caldeiras às 6 horas em ponto.

É muito importante sair bem cedo para evitar muito calor durante a subida. Por essa razão, dormimos em Chã das Caldeiras na noite anterior, na Casa Marisa. A maior parte das pequenas unidades hoteleiras estão habituadas aos “early birds”. Por isso, basta dizerem ao que vão, que o pequeno almoço será servido ainda de madrugada.

Ficamos alojados na Casa Marisa

Ouvimos as primeiras recomendações do guia e de mochila às costas lá iniciamos a caminhada. Serão cerca de 4 horas a subir e duas a descer, num total de 11 km. Isto, seguindo um ritmo que permitisse às crianças acompanhar-nos sem problemas.

Da Casa Marisa, onde estávamos hospedados até à Portela, a localidade onde se inicia a subida ainda há uma caminhada de cerca de meia hora pela estrada antiga. Apesar disso, preferimos ficar neste alojamento pelas suas ótimas condições.

Em Portela entra-se finalmente na terra batida e daí começa-se uma subida que só há-de parar no cume do vulcão.

Bastam alguns metros para se começar a ter noção de todo o espaço que envolve esta gigante cratera. Depois de mais ou menos uma hora a subir as casinhas de Chã das Caldeiras são já pequenas peças de Lego. Mosteiros, a cidade mais próxima, aparece-nos no horizonte. Dali também já é possivel ver toda a extensão da erupção de 2014 que destruiu casas, escola, igreja, parque natural, a adega cooperativa e os principais campos agrícolas. Contam-se 520 hectares submersos pela lava. O vulcão fez mais de 900 desalojados.

Zezé Montrond, o nosso experiente guia

Ao longo da caminhada o guia vai fazendo paragens para nos passar informações e permitir-nos retemperar as energias. É muito importante que assim seja.

Muito importante também é seguir sempre pelos caminhos indicados.

A certa altura parece-nos que se pode subir por qualquer lugar, mas não é bem assim. Só o guia sabe exatamente por onde seguir para evitar acidentes e reduzir a taxa de esforço.

A parte mais difícil é, de facto, estarmos sempre em plano inclinado. Especialmente na última hora quando o caminho é ainda mais íngreme. Já se vê a meta final, mas o cansaço acumulado e a inclinação tornam esta fase na de maior grau de dificuldade.

Também já não é momento de olhar para baixo, principalmente se sofrer de vertigens!

E eram 10.30 quando finalmente chegamos ao pico do vulcão. Eis-nos perante a bordeira rochosa que delimita uma cratera gigante adormecida desde o século XVIII. Depois disso todas as erupções aconteceram noutras pequenas crateras que se foram abrindo na caldeira.

Enquanto uns descansavam e saboreavam o feito, os mais aventureiros do grupo escalavam a bordeira, onde foi instalado um cabo de aço que permite subir aos pontos mais altos em segurança.

A visibilidade era relativamente boa para termos uma vista desafogada sobre a ilha do Fogo, mas a névoa impedia que se avistasse as ilhas mais próximas, Santiago e Brava.

Ainda assim a vista é incrível!

Uma hora de descanso, de fotografias e de reposição de energia e o guia prepara-nos para a aventura que se segue: descer o vulcão. Garante-nos… que é a parte mais divertida!

Há duas formas de descer, uma mais longa que passa pela cratera da última erupção e outra mais rápida, que segue, mais ou menos, o caminho da subida. Escolhemos esta última e pusemo-nos de novo ao caminho.

Cerca de meia hora depois de seguirmos pelo mesmo trilho que usamos para subir chegamos à zona da jorra, uma espécie de “areia vulcânica” muito leve e solta. Como descreveu o nosso guia, o “playground”.

A partir daqui a ordem era, correr, pular, saltar, surfar… cair e levantar. A sensação de diversão é indescritível!

A descida é extremamente íngreme e é preciso corrermos inclinados para trás para compensar o plano deveras inclinado. Muito divertido!

Demoramos a descer metade do tempo que levamos a subir. Ou seja, no total umas duas horas e pouco até estarmos de novo na antiga estrada a caminho da Casa Marisa. Cansados, sujos, mas com a incrível sensação de prova superada e de termos vivido uma experiência para a vida.

Valeu muito a pena e provavelmente iremos repetir esta aventura!

Os bungalows da casa Marisa são ideais para o descanso depois de subir ao vulcão.

Dicas úteis:

Quando ir: O ideal é subir na Primavera, entre março e junho. O clima ainda não é excessivamente quente, mas a visibilidade é quase garantida.

O que levar: Calçado próprio para caminhadas e escaladas (é fundamental para uma subida segura). Calças (não recomendamos calções por causa dos arranhões). Uma camisola de manga comprida e outra por baixo mais fresca. Chapéu e muito protetor solar. Na mochila leve água (aproximadamente 1,5 lt por pessoa), fruta, barras energéticas, chocolate, mas atenção para não ir demasiado pesado.

Onde ficar: Ficamos na Casa Marisa um espaço muito agradável com uns bungalows muito giros e acolhedores. O restaurante também é ótimo.