Fez Erasmus em Itália enquanto estudante, Leonardo Da Vinci na Alemanha, como recém licenciada, mas foi em Inglaterra que decidiu viver. Especializou-se em saúde mental e já trabalhou com vítimas de crimes. Conheça a história de Joana Durão.
Nome: Joana Durão
Origem: Portalegre
Residência: Northampton, Reino Unido,
Profissão: Senior Mental Health Practitioner
Países onde já residiu: Itália, Alemanha
Quando é que tomou a decisão de emigrar e porquê?
A minha universidade oferecia a possibilidade de fazer um semestre no estrangeiro ao abrigo do programa Erasmus e nem pensei duas vezes. Decidi ir para Itália e foi, sem dúvida, a experiência mais marcante da minha vida e que mais me fez crescer. Mais tarde, quando acabei o curso de Psicologia, surgiu a oportunidade de ir para fora novamente, desta vez através do programa Leonardo Da Vinci. Havia uma lista de 7 países. Decidi colocar Alemanha como primeira opção e foi onde fui parar. Fiquei um semestre em Berlim, dado que a adaptação foi um pouco difícil, sinto que não aproveitei tanto o tempo como aconteceu em Itália.
Em 2011, o meu marido, meu namorado na altura, disse-me que tinha recebido uma proposta para trabalhar para a Fórmula 1 em Inglaterra.
Joana Durão
Este sempre foi o sonho dele e portanto, nem pensei duas vezes e disse-lhe “Ok, vamos.” Foi a primeira vez que saí de Portugal sabendo que não ia voltar tão depressa e não me arrependo dessa decisão.
O que faz exatamente uma “Senior Mental Health Practitioner”?
Estudei Psicologia e, depois já em Inglaterra, tirei Serviço Social. Trabalhei na protecção de menores mas era emocionalmente muito duro. Decidi mudar de área e voltei às minhas raízes. Actualmente, trabalho para o sistema nacional de saúde em Inglaterra num departamento dedicado especificamente a crianças e adolescentes (CAMHS – Child and Adolescent Mental Health Services). Não só tenho os meus pacientes que vejo todas as semanas, mas também tenho a função de “care coordinator”, que consiste em monitorizar certos casos mais complexos de forma a garantir que as crianças e adolescentes têm todo o apoio de que precisam.
Trabalhou com vítimas de crime, que tipo de crimes?
Quando vim para Inglaterra, ainda não tinha trabalho. Decidi voluntariar-me para ajudar vítimas de crime.
Trabalhei com pessoas que foram assaltadas na rua, agredidas físicamente, vítimas de racismo, pessoas cujas casas foram roubadas e pessoas a quem foi roubada a identidade.
Joana Durão
Foi uma experiência marcante? Em que medida?
Desde essa altura comecei a ver o mundo de uma perspetiva completamente diferente, mais realista. Este trabalho também me fez refletir sobre o facto de as pessoas viverem situações semelhantes de formas totalmente distintas. Penso que me fez sentir mais útil.
Como imagina a sua vida se tivesse permanecido em Portugal?
Penso que, se tivesse ficado em Portugal, estaria a trabalhar numa área completamente diferente daquelas que gosto só para pagar as contas de uma casa alugada, a preço super inflacionado.
Não teria comprado casa e não tinha certamente o nível de vida que tenho aqui, o que significaria não poder viajar tanto, que é uma coisa que adoro.
Joana Durão
Do que sente mais falta em Portugal?
Para além dos amigos, da família e da comida, sinto muito a falta da cultura e do povo. Mas hoje em dia, com as redes sociais, é mais fácil estar em permanente contacto. E em relação à comida, também ja se vai encontrando de tudo um pouco no Reino Unido. Mas a cultura e o povo são algo de que sinto muita falta porque, não vivendo em Portugal, é difícil de experienciar.
Nós somos um povo muito querido, muito amigo, que gosta de ajudar e que dá abraços. Os ingleses, pelo contrário, são um pouco distantes e demasiado “politicamente corretos”.
Joana Durão
O que a faria voltar a Portugal?
Eu só voltaria a Portugal, definitivamente, se atingisse a reforma ou se pudesse viver tão bem lá, em termos económicos, como vivo cá. Assusta-me ver os meus pais ficarem mais velhos, mas mais depressa os traria para cá do que eu iria para lá.
Receia o Brexit?
Eu sou contra o Brexit e acho que os ingleses só vão perceber as repercussões quando efetivamente a saída acontecer.
Joana Durão
Em relação a receios, não sou pessoa de sofrer por antecipação e não acho que valha a pena especular e entrar em pânico. Infelizmente temos de esperar para ver se e como é que nos vai afetar. Enquanto se espera, resolve-se a cidadania por descargo de consciência.
Há muitos emigrantes portugueses à sua volta?
Ouço dizer que há muitos emigrantes portugueses em Northampton mas é raro encontrarmos algum. Quando encontramos é normalmente no supermercado e eles são geralmente enfermeiros que vivem mais perto do hospital, o que não é o nosso caso.
A Minha Mala Leva…
Cerejas de São Julião (as melhores do mundo!), rebuçados de ovos de Portalegre, castanhas a sério (as de cá não prestam) e ginja da minha mãe!
Sobre Northampton:
Como é o custo de vida?
Se considerarmos o salário mínimo e médio nacionais, o custo de vida no Reino Unido é mais barato que em Portugal. Nós levamos uma vida muito boa, fazemos e compramos as coisas que queremos e ainda nos sobra sempre dinheiro.
Lugares que recomenda para quem visita?
Northampton não tem muito para ver, mas a princesa Diana viveu perto de Northampton, em Althorp, e está enterrada lá. Para além disso, há imensas casas antigas que se podem visitar com a mobília original e isso vale muito a pena.
Onde comer?
Nós temos imensa sorte de ter um restaurante de tapas espanhol tão perto de casa que dá para ir a pé. Chama-se La Terraza e é absolutamente fabuloso. Se passarem na autoestrada M1, podem aproveitar e dar um saltinho porque fica só a um desvio de 3 minutos.
Um ponto turístico.
Como já referi, Althorp vale imenso a pena. Em relação ao Reino Unido em geral, os nossos sítios preferidos são a região dos Lagos em Cumbria e a Cornualha.