Esta poderia ser uma história de um qualquer casal de emigrantes, mas é a nossa. A nossa história! Uma história que começou há 15 anos e que se conta num percurso de crescimento pessoal e profissional.

Faz hoje, 5 de Novembro, 15 anos que aterramos na cidade da Praia, em Cabo Verde.

Não chegamos de armas e bagagens, nem sequer com 23 quilos à justa. Pelo contrário, as malas estavam dimensionadas para um projeto audiovisual que se cumpriria em alguns meses, meio ano no máximo.

Mas Cabo Verde, aquele arquipélago a que chamam com justiça terra da morabeza, tratou de se embrenhar em nós, muito antes de o termos percebido.

Um projeto leva a outro e outro e mais outro. Era um desafiante e novo mundo que queríamos explorar… fazendo!

Sendo assim, ao fim de um ano, já éramos parte de um pequeno núcleo resistente, diríamos até aventureiro, que decidiu ficar e aqui começar a escavar alicerces.

A palavra “emigrante” deixou de nos meter medo.

Era preciso assumi-la sem complexos, para só assim conseguir lidar com a saudade, com as distâncias, com as expectativas, dos de cá e dos de lá.

A expressão “Nha Terra Nha Cretcheu” (em português, minha terra, meu amor) que dava nome ao programa de televisão que foi motivo da nossa vinda, passou a fazer todo o sentido.

E agora, traduzem-se em 15 anos de uma imensa e profunda aprendizagem, de desafios e obstáculos que é preciso superar todos os dias.

Mesmo que às vezes canse, canse muito.

Mas o sabor das conquistas, principalmente das mais difíceis, compensa o caminho sinuoso.

15 anos a aprender a ouvir, a aprender a receber, para depois poder dar, oferecer. É assim, da troca generosa de experiências e vivências que se faz esta história de emigrantes. Uma troca assente nos valores da igualdade e da humildade.

Uma década e meia marcada por muito trabalho, muitos projetos vários cabelos brancos e rugas que contam a nossa história.

De saudade, esse sentimento que passou a fazer parte da nossa existência e com o qual tivemos de aprender a viver.

Também, de perdas. De estrelinhas que brilham por nós, noutra dimensão.

Entretanto, pelo caminho nasceu uma criança que aqui cresce livre e feliz, com amigos de todas as cores, culturas e nacionalidades. Ciente de que essa é a sua grande riqueza.

Uma infância que orgulhosamente sabemos, só Cabo Verde lhe poderia proporcionar.

A terra da morabeza, já não nos parece tão exótica, tão exuberante. O “very typical” deixou de nos impressionar. Porque agora, somos de cá e aprendemos a olhar este nosso mundo como quem vê por dentro, como quem sente só por fazer parte.

Cabo Verde é agora colo, é casa, é um lugar que nos pertence por direito. É país pelo qual brigamos e criticamos com propriedade. País com que nos zangamos, para depois fazermos, inevitavelmente, as pazes.

Hoje celebramos tudo o que estas ilhas nos deram.

As pessoas, as experiências, as histórias que nos contam e temos o privilégio de partilhar com o mundo.

Celebramos a família misturada de sangue e de coração, que já se funde numa só, num abraço enorme entre dois continentes.

Celebramos o simples facto de continuarmos a ser, a poder e a querer. O simples facto de continuar a fazer sentido escrever uma crónica como esta.

Veja como celebramos os 14 anos de Cabo Verde neste link