É a segunda ilha mais turística de Cabo Verde, só superada pelo Sal. No entanto, quem para lá viaja com destino a um resort em “all inclusive“, talvez fique sem ver a Boa Vista além dos muitos quilómetros de praias de areia branca.

Para além dos resorts, a Ilha Fantástica, como lhe chamou o escritor cabo-verdiano Germano de Almeida no seu romance, é um paraíso de espécies protegidas, paisagens naturais e experiências humanas.

homens a tocar guitarra
Boa Vista é muito mais do que praias de areia branca e mar azul

A Boa Vista tem aeroporto internacional mas apenas para voos charter. Portanto, se quiser uma experiência para além dos resorts, provavelmente terá de fazer um voo para Santiago. A partir dali apanhar um voo doméstico para a Boa Vista.

Uma vez chegado, escolha hospedar-se em Sal-Rei. A cidade capital da ilha e que serve de ponto de partida para tudo.

Apesar de haver imensas ofertas de excursões organizadas, aconselhamo-lo a alugar uma viatura (jipe ou pick up). Desta forma, poderá fazer percursos personalizados e à sua medida.

espreguiçadeiras na areia com palmeiras

Whale Watching

Em primeiro lugar, se for à Boa Vista entre Abril e finais de Junho, esta é uma experiência obrigatória. Nesta época as baleias de bossa migram do norte da Europa para as águas de Cabo Verde onde se reproduzem.  Para protegerem as crias aproximam-se mais da costa o que permite avistá-las.  

Em Sal-Rei encontrará várias embarcações que se dedicam a levar turistas a fazer observação destes cetáceos.

Pessoas num barco a ver baleias
Whale Watching

A empresa Naturália, tem uma longa experiência em whale watching e a excursão é sempre acompanhada por biólogos que a bordo não só explicam tudo, como também garantem que o impacto dos turistas é o menor possível para o meio ambiente.

O passeio demora cerca de 2 horas e meia e, se tiver sorte é inesquecível!

Baleia a saltar
De Abril a Junho é comum avistar baleias de bossa

Desova de tartarugas

Entretanto, no Verão, entre Junho e Setembro é a vez das tartarugas. Cabo Verde é o 3º ponto do mundo com maior nidificação de tartarugas marinhas da espécie caretta caretta. A ilha da Boa Vista é o principal no país.

Todos os resorts oferecem a possibilidade de passeios noturnos para observar a desova. Mas, garantimos-lhe que a experiência é totalmente diferente se o fizer com o apoio de uma das ONG’s que trabalham com a proteção das tartarugas.

sinalização tartarugas
De Junho a Setembro é época de desova de tartarugas marinhas nas praias da ilha

A Natura 2000 é a mais antiga e durante esta época dedica-se a vigiar as praias, proteger os ovos e evitar a captura de tartarugas.

Assim, pode juntar-se aos biólogos e voluntários e fazer também um programa de voluntariado, de uma noite, com as equipas de patrulha.

Além de ser uma experiência realista e orientada por especialistas, será certamente mais gratificante que a simples observação turística.

Rumo ao norte

Na ilha da Boa Vista as aldeias do norte são um “must go”. Por isso, organize um dia para explorar a ilha nessa direção. Parta de Sal-Rei no caminho para o Rabil (a localidade do aeroporto). Aí faça uma primeira paragem para conhecer a olaria local. Um espaço onde vários artesãos, quase todos da mesma família, produzem peças de cerâmica utilizando as técnicas mais ancestrais.

Compre uma recordação de viagem e siga caminho rumo ao norte.

longa estrada de calçada
Longas estradas e cenários lunares convidam à evasão e descoberta

A partir daqui irá, de facto, embrenhar-se na ilha e nas suas paisagens lunares. Longas estradas dividem planícies áridas de terra vermelha e pedregosa. Vida, só mesmo a de algumas tamareiras mais resistentes e das cabras e burros que ninguém sabe como ali chegaram.

João Galego é a primeira aldeia, segue-se Fundo das Figueiras e por último Cabeça dos Tarrafes.

Estão todas alinhadas na mesma estrada e têm em comum as casas térreas, muito coloridas e decoradas com corações, flores e vários outros motivos.

casas coloridas com buganvilias
As casas coloridas das aldeias do norte são um ex libris da Boa Vista

Vá parando em todas elas ora fotografe ora respire tranquilidade. De seguida, mais à frente converse com os moradores. Ou melhor, sente-se com eles a jogar ouril (um jogo tradicional que aprenderá facilmente).

Continue até uma das várias mercearias onde poderá degustar o famoso queijo da Boa Vista.

Por conseguinte, se for curioso pergunte pelos produtores locais e visite uma das pequenas unidades artesanais onde vai aprender como é feito o queijo de cabra da ilha.

Este é o lado da Boa Vista mais pitoresco e menos tocado pelo turismo de massas. Por isso, conhecer a Boa Vista os seus hábitos e costumes é, sem dúvida, demorar-se por aqui.

homens sentados a jogar uril
Uril é um jogo tradicional de Cabo Verde

Uma vez nas aldeias do norte aceite a proposta da X Ecoturism. Uma pequena empresa local que proporciona experiências de turismo na comunidade.

Almoce katxupa tradicional, feita a lenha na aldeia de Fundo das Figueiras e siga para uma pequena quinta, com animais e várias espécies de frutas e hortícolas orgânicos.  

Um verdadeiro oásis no meio de um cenário árido e aparentemente infértil.

picnic
No X Eco Turism faça uma degustação de frutas de época

O objetivo é mostrar ao turista as técnicas de cultivo, de captação de águas subterrâneas e a resiliência do povo boavistense.

A visita termina com degustação de fruta ao som de música tradicional tocada ao vivo.

Spinguera

Spinguera é uma antiga aldeia piscatória, hoje reconvertida em pequena unidade de turismo eco sustentável. As casas de pedra foram recuperadas com bom gosto e respeito pelos recursos naturais existentes na Boa Vista.

Chega-se lá através de um desvio na mesma estrada que liga Sal Rei às aldeias do norte.

Espreguiçadeiras ao por do sol
Spinguera Ecolodge

O caminho de terra batida e pedras soltas não é dos melhores, mas o destino justifica-o.

Tudo ali é harmonia entre a aldeia e o mar. Não há rede móvel. Ganha-se em sossego e tranquilidade. Contudo, temos a certeza que ficará com vontade de passar aqui uma noite.

Mas se não for possível, sente-se no bar, aprecie as vistas. Ou, converse com a proprietária, uma italiana que há muitos anos se apaixonou por esta inóspita aldeia e aqui construiu o seu projeto de vida.

casas de pedra
Spinguera, uma aldeia piscatória hoje convertida em unidade de turismo ecológico

Praias a perder de vista

Se o norte da Boa Vista é a zona mais pitoresca da ilha, o sul é marcado por aquilo que a popularizou, ou seja, as enormes praias de areia branca e mar azul turquesa.

Chaves e Santa Mónica são as mais famosas e onde estão os maiores resorts. Apesar disso, há espaço à vontade para estender a toalha longe das zonas mais concorridas.

praia boavista
A Boa Vista tem centenas de quilómetros de praia

Mas, se prefere locais mais virgens, siga pela costa depois de Santa Mónica na direção do Ervatão (para nós a zona costeira mais bonita). Aqui encontrará praias lindíssimas, pequenas enseadas e baías de águas transparentes.

No sentido contrário, vá de Sal Rei na direção da Praia do Estoril e, de lá, até ao cabo de Santa Maria, na praia de Atalanta. É uma zona mais ventosa, virada a norte, mas onde jaz um imponente navio encalhado há 5 décadas que certamente vai querer fotografar.

navio encalhado

E mais

A Boa Vista é um santuário de muitas espécies de aves e peixes que são permanentemente monitorizados pelas ONG’s locais. A Bios Cv tem um trabalho muito ativo nesta área. Na sua sede em Sal Rei, poderá ficar a saber mais sobre a biodiversidade local.

Tente agendar uma saída de campo com os biólogos. Não se vai arrepender.

ave marinha bebé
A Boa Vista é zona de nidificação de várias espécies de aves marinhas

Além das aldeias do norte há outras pequenas localidades pitorescas e que merecem a sua visita.

Na Bofareira, vai encontrar uma associação que organiza sessões de limpeza das praias, ações de educação ambiental para crianças e pequenas iniciativas de desenvolvimento local. É aqui também que vive um dos mais antigos artesãos dos tradicionais chapéus de abas largas usados pelos “cabrer”, isto é, os pastores de cabras da Boa Vista.

pastor de cabras
“Cabrer”- os tradicionais pastores de cabras da Boa Vista

Igualmente, em Povoação Velha, conheça a comunidade piscatória e visite o pequeno, mas variado, centro de artesanato local.

Em Sal Rei, explore a cidade, vá até ao porto e assista à rotina dos pescadores e peixeiras.

Passeie no pontão e sente-se na esplanada. Ou, se for de aventuras, mergulhe na baía de Sal Rei na companhia de tartarugas e juvenis de tubarão. Peça ajuda à ONG Mar Alliance para o fazer.

barco de pesca no mar
Passeio de barco na baía de Sal Rei

E claro, reserve também um final de tarde para o deserto de Viana.

Aqui o encontro é com dunas e mais dunas a perder de vista, que, sob o sol dourado, assumem formas, sombras e tonalidades inesquecíveis.

deserto de viana
Deserto de Viana

Em suma, esta é a Boa Vista para além dos resorts. Uma ilha para descobrir com calma, para saborear lentamente, ao ritmo das suas gentes e da sua natureza. Sem a pressão das excursões organizadas.

Deixe-se levar pela Ilha Fantástica!

Dicas úteis:

Onde ficarHotel Ouril Águeda (Sal Rei), Migrante Guest House (Sal Rei), La Boaventura Guest House (Sal Rei), Spinguera (norte da ilha)

Mulher no sofá com cão
La Boaventura Guest House

Gastronomia– Sal Rei tem uma restauração variada de cozinha nacional e internacional. É certo que, o peixe fresco está sempre presente nos menus, bem como o marisco, em especial lagosta. Tendo em conta os muitos imigrantes italianos que lá vivem, não faltam igualmente ofertas de boas pizzas e pastas. Também encontrará vários restaurantes e bares onde pode degustar refeições leves com os pés na areia e vista para o mar turquesa! Nas aldeias do norte pode degustar pratos tradicionais como cabrito ou a obrigatória katxupa.

Mais informações sobre restaurantes na Boa Vista aqui.

Comprar- O artesanato local é sempre uma boa opção. Mas atenção porque há imensos vendedores da costa africana a vender peças que nada têm a ver com Cabo Verde. Se quer artesanato da Boa Vista, escolha a olaria ou a cestaria locais. Também pode encontrar facilmente doces de frutas e licores feitos na ilha e o tradicional queijo de cabra. Nas aldeias do norte, procure a Tambra, uma cooperativa de mulheres, que produzem e vendem chás, compotas e sabonetes artesanais feitos com produtos naturais da ilha.