É de violino na mão que se sente na zona de conforto. Ravena Carvalho, emigrou para a Suiça por amor, mas, seria a música o verdadeiro motivo para ficar por lá. Divide o tempo entre muitas atividades porque há contas para pagar. Mas o grande sonho é viver daquilo que a faz verdadeiramente feliz: tocar violino.
Nome: Ravena Carvalho
Origem: França
Residência: Suiça
Profissão: Estudante, violinista, professora e empregada de mesa.
Países onde já residiu: Bélgica
É portuguesa, nasceu em França, agora reside na Suíça, conte-me um pouco do seu percurso até chegar onde está hoje.
O percurso é simples. Em França vivi apenas os meus primeiros meses de vida. Em Portugal vivi até aos 21 anos e depois vivi meio ano na Bélgica com a minha mãe. Regressei a Portugal, mas pouco depois, com 22 anos emigrei para a Suíça porque fui viver com o meu namorado na altura. Desde então que por cá fiquei. A maior motivação, na época, foi o amor, mas um dos grandes objetivos a longo prazo era também continuar os estudos. Neste momento estou no último semestre do Mestrado de Ensino da Música.
Como é que a música entrou na sua vida?
Não sei bem dizer ao certo quando.
Tenho fotos com cerca de 3 anos, com auscultadores enormes na cabeça e de volta da aparelhagem de música dos meus avós.
Ravena Carvalho
Acho que a música sempre esteve muito presente na minha vida. Lembro-me de muitos artistas favoritos da minha mãe, mesmo antes de entrar na escola de música. Ouvíamos Emir Kusturica, Madonna, Maria João e Mário Laginha, Pat Metheny, entre outros. No carro, em casa, em todo o lado e dos mais variados géneros. O meu pai também ouvia muita música no carro. Mais tarde, através de uma prima que já tocava violino, lá acabei por me inscrever na mesma escola de música e escolher o mesmo instrumento.
Neste momento é estudante, violinista, professora e empregada de mesa. Como concilia todas estas atividades?
Não sei! (Estou a brincar😊) Tive uma sorte enorme de ter uma patroa super prestável e compreensiva, que me tem possibilitado estudar e adaptar o meu horário de trabalho com o horário da universidade. Hoje em dia, trabalho muito pouco no restaurante, porque, entretanto, surgiram duas vagas temporárias como professora de violino e tenho tocado regularmente numa orquestra e esses têm sido os meus trabalhos principais.
Sou eternamente grata à minha patroa!
Ravena Carvalho
No futuro tem planos para se dedicar exclusivamente à música?
Sim, sem dúvida alguma! Durante muito tempo, comecei a acreditar que profissionalmente não precisava de estar relacionada com a música, mas o tempo claramente me fez perceber que é na música que eu quero e tenho de estar! Não me consigo imaginar a fazer outra coisa.
Acredita que esses planos possam ser concretizados em Portugal?
Acredito que conseguisse viver da música em Portugal, também. Não sei dizer até que ponto existam mais ou melhores condições aqui. Os salários são mais altos, mas o nível de vida também é muito mais caro.
Aqui sou professora numa língua em que cometo erros, aqui sou estrangeira.
Ravena Carvalho
E um estrangeiro cá, não é tão facilmente visto como “melhor” como por vezes em Portugal acontece. Há mais orquestras sim, mas também somos mais a concorrer para um lugar.
Dos palcos onde já tocou qual a marcou mais e porquê?
O KKL em Lucerne é até agora, sem dúvida alguma, o palco que mais me marcou. Habituei-me a vê-lo do lado da plateia, quando apenas trabalhava como babysitter e nos restaurantes, e não acreditava voltar à música. Lembro-me perfeitamente de pensar, se algum dia iria tocar nesse palco. A sala é lindíssima e a acústica fantástica! Agora, sinto-me sempre uma sortuda quando lá estou!
E o palco de sonho?
Ui! Há tantos sítios onde gostaria de tocar! Sydney Opera House, Hungarian State Opera House, Carnegie Hall, Vienna State Opera, The Metropolitan Opera, entre muitos outros!
Quais são os seus role model na música?
Vilde Frang, Leonidas Kavakos, Martha Argerich.
Presumo que goste muito de música clássica, mas o que é que faz parte da playlist da Ravena?
Um pouco de tudo! António Zambujo, MARO, Carlos Jobim, Augustin, Nils Frahms, Chet Baker, Cole Porter, Ibrahim Maalouf, Joseph Tawadros, Pink Floyd, Queen, Melody Gardot, Carolina Deslandes, Nara Leão, etc.
O que faz nos tempos livres?
Durmo! Passeio, quando posso tento ir a uma cidade nova. Tento ler, e espero conseguir começar a viajar mais!
Há muitos emigrantes portugueses à sua volta?
Somos muitos. Acredito que hoje em dia somos mais emigrantes a querer permanecer cá. Antigamente a ideia era a de trabalhar temporariamente aqui e voltar a Portugal.
Quando menos espero, lá está um “tuguinha” no autocarro ou na estrada.
Ravena Carvalho
Tem planos para regressar a Portugal?
De momento não, mas não elimino a hipótese.
Do que sente mais falta em Portugal?
Da família! Da comida, do sol e do cheiro a mar!
E o que é que não lhe deixa saudades?
Os atrasos. E os transportes públicos.
A minha mala leva…
A roupa lavada pela avó e as saudades imediatas.
Sobre a Suiça:
É um país friendly para emigrantes?
Acredito que sim. Na minha opinião, penso ser importante tentarmos adaptar-nos ao país, cultura e pessoas de cá, ou pelo menos respeitá-los. Já senti racismo da parte de alguns, e já me senti muito respeitada também. Em geral, penso, no entanto, que a Suíça abre muitas portas a muitos de nós.
Que recomendações faria a portugueses interessados em emigrar para a Suíça?
Vir com contrato de trabalho e dinheiro e saber a língua do cantão para o qual vão. E talvez ainda mais importante: tentar conhecer a cultura e socializar com os suíços.
Sobre a cidade onde reside. Que lugares recomenda?
A cidade de Lucerne é por si só muito bonita bonita. Mas um dos meus lugares preferidos é definitivamente o Conservatório (Dreilinden).
Um restaurante?
Para ser sincera? Tem de ser um português: Oliveira’s em Lucerne. Ou então, Pfistern para comida típica da Suíça.
Um local onde se sinta a cultura portuguesa?
O típico café com o futebol a dar na televisão, o Bruch Bar em Lucerne.